sábado, 19 de janeiro de 2008

Baby look

Debaixo dessa garganta o espelho já viu o morder dos cheiros. A cama afarfalhada. A quentura. Cabelos embaraçados do puxa-puxa que sempre está fora do seu projeto político. A água mineral do depois. Essas manchas ninguém vê. Porque a baby look e a calça jeans dizem que ela é alheia a tudo isso. A isso tudo. Isso. Ah, essas manchas! Aquela cama.
Mas ela também usa mini-saia. Menina. Cadarços desamarrados na escola. Cabelos embaraçados da brincadeira de esconde-esconde. Porque ela é aparentemente alheia.
Ela não se lembra do bilhete destinado a Sofia Amundsen: "Quem é você?". Porque naquele momento, ela verdadeiramente não sabe. Nem pra onde vão todas as suas filosofias que naquele momento tornam-se hipócritas. Como as suas roupas.
Cabelos embaraçados do pensa-pensa. Amplia. Deforma. Inventa conceitos.
O passado é como as páginas da agenda: meses anteriores presos por um clips. Só memória; sem marcadores.
E de novo vem a coleira, a coceira infernal no pescoço, a inquietude das pernas; e do pensamento. Pensamento roxo. Porque ela gosta muito de cores. Mas ali tá tudo tão pálido, apesar das bochechas vermelhas. Suor nos cabelos embaraçados. Ela é tão alheia a todos esses planos eternos de segundos. Mas as pernas estão sempre inquietas; e o pensamento. O vermelho das bochechas. O suor dos cabelos. As marcas.

Bruna Lima Feitosa