quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Fri

Que saudade do que eu ainda não tive; que alegria pela surpresa que não sei se terei. Frida olha pro seu seio e imagina um bebê matando a fome de justiça que ela tem. Locke, Platão, Hegel pra quê? Se eles só perguntam e não respondem. Eu também pergunto e ninguém me responde... Pra quê, por que viver? Se a missa do galo é mais bonita na Corte; se o fio de cabelo vale mais que uma lágrima!
Este "menuscrito" da vida tem um paladar que eu já não mereço mais. Um prato com sabor amargo. Quando tem batata frita é menos mal. Mas não é sempre que a batata quer ser frita para me satisfazer.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Álien

Impressionante como essa cidade me faz mal. Brilhantina nos cabelos cigarrentos. Cigarro no bico dos hipócritas. Seria um modo de se auto-afirmar? Porque nós somos mutantes em todas as coisas.
O silêncio machuca porque você não sabe o que ele diz. A sala de espera é silenciosa, mas tem revistas interessantes. Pernas à mostra, entrededos, botinas velhas, bundas mal-feitas. As pessoas se matam de trabalhar pra depois morrerem de alegria nos carnavais da vida. O rosto vivo de uma vivacidade já lavada por lágrimas. Como é bom aprender com erros, pagar na mesma moeda.
Bom mesmo seria se tornar um neurônio, uma artéria ou sei-lá-o-que pra entender o que as pessoas pensam, porque agem como agem, se têm uma genética ou um passado que as fazem realizar atos horríveis. É relativo. Porque meu vizinho é diferente; e é chato. Eu quero olhar o mundo, olhar o verde, olhar a seca. A cerca. O arame farpado que amarra os réus.

sábado, 29 de agosto de 2009

Manifesto feminista

Machismo é uma coisa que me tira do sério. Homem pode tudo, homem manda, homem isso, homem aquilo. Que saco!
Eu não me canso de dizer que mulher é muito mais habilidosa (em tudo!). Tenho impressão de que a guerra dos sexos está longe de ter um cessar fogo, apesar das inúmeras conquistas femininas.
Tenho um desejo incansável de tentar imaginar o porquê de os homens modernos ainda se acharem superiores. È inconcebível um pensamento desses nos tempos de hoje. A mulher trabalha fora, arruma a casa, cuida dos filhos (alimentação, escola, lazer, saúde), cuida da sua beleza e, ainda, cuida deles: onças-ferozes- pidonas!

X-cen

Estados de alma.
Estados de dor.
Amor.
Amor-próprio.
Amor ao próximo.
Excentricidade.
Idade.
E transcendência.

Trapezóide

Essas tardes de trovoada me fazem lembrar alguns anos atrás; o tempo em que eu era tolinha. O tempo em que eu sentava na porta, olhava a chuva cair e sonhava. Sonhava com tantos super acontecimentos! Me sentia uma menina grande, mas, às vezes, a mesma tolinha de sempre. Desengonçada, óculos fundo de garrafa, feinha que doía. Mas eu sonhava. Como até hoje...
Minha cabeça era repletinha das ilusões das crianças. Em uns tempos, minha vida era fazer roupa pra barbie, vestir a barbie e cortar o cabelo da barbie. Eu era a MÃE da barbie. Noutros tempos, eu encucava que queria ser bancária, brincava rodeada de calculadoras, pedaços de papéis denominados “saldos” e “extratos” e uma máquina datilográfica vermelha, que pra época era um notebook dos mais avançados. Achava linda essa coisa de INDEPENDÊNCIA. E noutros tempos ainda, minhas unhas eram um sangrar sem fim de tanto bife que eu tirava. Todo dia era uma cor. Meu pai falava que minhas unhas iam cair. BELEZA é outra coisa que ainda me faz gastar algumas horas do meu dia.
A impressão que me vem freqüentemente é de que todos aqueles sonhos na porta de casa, os banhos de chuva, as brincadeiras de escola (esqueci de dizer que eu também brincava de ser professora de banca e, detalhe, hoje eu sou professora), os sonhos da menina tola se realizaram e a alegria de se olhar no espelho da alma é incomensurável.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Desejo

É redundante dizer que o ser humano é o ser do desejo. Desejar ser mais feliz, desejar ter mais dinheiro, desejar ter mais amor. Desejar desejar. Possuir.
Eu quero ter uma sombra com calor amor. Vai-e-vens de reflexões e sempre ter no que pensar. Cuidar das pessoas, fazer trabalhos voluntários no hospital e ler livros interessantíssimos. Inchar os pés e a barriga. Chorar de rir, chorar com cócegas, brincar de bater. Passar sorvete no rosto dele e lamber. Viver. Feriados? Comer, dormir, passear e amar! Nos outros dias, trabalhar e amar...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Espadas

Essa tarde sem pôr-do-sol-cheia-de-cólica me fez pensar em bastantes coisas. Costumes bárbaros. Quando eu me debruço na janela pra escrever sobre vida e alegria, homens de terno preto desfilam segurando um caixão. Coincidência ou não, a verdade é que eu estou muito feliz. E adoro escrever textos aparentemente sem coerência. É fato que esse período hormonal torna as mulheres mais sensíveis, mas eu quero dizer que sou uma pessoa sensível! E o que estou vendo agora me comove: meninos brincando na calçada com espadinhas verdes imaginando serem super-heróis. E eu aqui da minha janela pensando ser também uma heroína. Por tudo o que já fiz, por todos os abraços que eu não neguei, pelo telefonema que dei pra uma amiga quando ela precisava. Porque viver é sentir. Um amigo muito querido um dia me disse isso e só agora eu entendo bem. Sentir o que eu sinto quando vejo os meninos brincando, uma mulher grávida, um beijo na televisão. O meu coração transborda de sonhos. Interessante como eu nunca tinha me dado conta de que desta janela eu posso ver o mundo. As pessoas vêm e vão. Cadê o grupo de meninas fashion "Apocalipse girls"? As pessoas vêm e vão na calçada e na minha vida, mas algumas ficam. E o menino com espada verde continua desafiando os passantes. O menino de espada verde é um provável filho de Sophie. Sophie está com sede. Pausa.
De volta à janela, perfumada, sem sede. No banho, estive pensando em como se pode ser feliz acordando cedinho e indo vacinar vacas ou pondo a melhor com óculos Dolce&Gabanna e indo passear. Comendo um prato delicioso de camarão num restaurante chic ou uma buchada numa bacia com peões. Tomar banho com sabonete líquido cremosíssimo ou com um sabonete peba. Agora eu tomei banho com sabonete peba e me senti ótima. Também, depois de um dia inteiro de cólica que resolveu dar um cessar-fogo à base de inúmeras pílulas...
E ainda volta gente do enterro... O menino não brinca mais na calçada. Já é noite. Super-heróis devem se cansar também. Fecho a janela.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Auto

Muito tranquila. Continuo dizendo com os olhos o que sinto. E o mundo me dizendo muito. E prefiro não ficar cobrando nada de ninguém, porque cada um é o que gosta de ser e ponto final. Personalidade é assim. E ninguém gosta de muito enjôo. Eu mesma gosto de decisão! Faça sua parte, sem esperar que a vida te dê broncas. Corra atrás, mas saiba do que você está correndo atrás. Mas principalmente saiba do que você está fugindo. E fuja com todas as suas forças dos leões. Seja uma LEOA.
Eu gosto de pôr muito amor nas coisas que faço, mas veja bem, nas coisas que gosto de fazer! É com tanto esmero que todos os dias eu arrumo minha mesa de trabalho, sempre tão empoeirada. O mesmo pó de cimento que resseca meus cabelos faz edificar este condomínio de sensações utópicas em que vive o meu ser Sophie. Gosto da palavra utopia porque eu sempre consigo tocá-la. Ela roça em mim o tempo todo. Não porque meus pensamentos sejam longínquos, mas porque eles se fazem reais toda vez que minhas pálpebras se tocam. O utópico é perfeitamente passível de acontecer a qualquer hora. E na minha vida sempre acontece. Isso já é um clichê, mas lá vai: "o segredo está no poder da atração". Então pense positivo! Por mais que você esteja na pindaíba, gorda, estressada... você só estará assim até o dia que quiser. Eu não comecei esse texto querendo que ele fosse uma espécie de auto-ajuda (nada contra!), mas eu não me contenho em mostrar as pessoas como é fácil viver bem. E uma das piores coisas que venho vendo ultimamente é estressante: falta de amor-próprio, que é fruto da - ou melhor, ocasiona - falta de amor dos outros. As pessoas são mal amadas porque não se amam. É simples assim. Compre um bom livro. E comece hoje uma dieta.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Amídalas

Eu não tenho mesmo saco pra essa falta de disponibilidade. E estou de saco cheio dessa dispersão toda. Motos/Cavalos dão liberdade, mas não dão segurança. Ai, essa preguiça estagnadora e o passar do tempo! Falta de paixão. Comprometimento versus diversão. Fartíssima de vocábulos chulos como esses que eu uso agora. Farta também do cansaço dos tratados de alma de Dostoiévski. Que desorganização... em tudo! E tudo aparentemente bem. Quem detesta aparências também vive delas, nelas. Flanelas encardidas. Pontas de cabelo paridas. Polidas. Acho que já falei sobre coceiras infernais no pescoço. E de coleiras transmutadas nas amídalas? Contra toda essa necessidade de expressão. Dedos no celular. Mudei o final.

domingo, 23 de março de 2008

Neve

Não sei se você se lembra do que te falei sobre a simplicidade da ironia machadiana, uma ironia sobre a simplicidade da vida. Que na verdade é muito simples mesmo, basta buscar as respostas nos lugares certos. E fazia tempo que eu vinha buscando essas respostas! O incrível é que me parece que elas chegaram todas num dia só. Num sábado! Engraçado, quando eu era pequena eu não gostava de sábado: não tinha aula, meu pai não me deixava ver o programa da Xuxa (eu não entendia o porquê), era um saco! Mas parando pra pensar no misticismo dos dias, o sábado é um dia de grandes acontecimentos. E tem sido assim na minha vida. Por favor me deixe ser fútil pra acreditar nisso assim como acredito no poder da lua crescente sobre os meus cabelos.
No sábado eu não tinha emprego. Nem casa decente. Nem carinho. Só o calor do sol. E aquelas malditas roupas pra lavar. Algo estava muito errado. Logo a Sophie, que tinha tantas qualidades. Agora não se podia ver. Tornara-se amarga por não acostumar-se com a falta de pintura do seu prédio. Aluísio Azevedo escreveu sua obra-prima ali. Sophie também não achava confortável fazer tantas curvas num automóvel empesteado de fungos; de gente; de batatas!
A batata da sua cabeça começava a parar de assar naquele sábado. A princesa ligou o som e dançou. E não estava nem aí. Pois as respostas estavam aqui dentro. E que se danasse quem não estivesse de acordo!
A princesa Sophie havia aprendido bastante nesses últimos três anos. E era hora de voltar. Pois ela era uma boa filha... [segue-se a parábola bíblica!].
No sábado tudo ficou claro, como o sol que queimava lá fora, e fazia a princesa suar, com todas aquelas danças rebolativas.
Sophie sentia que sua missão estava cumprida, naquele que para ela era um lugar relativamente medíocre, onde a maioria das relações não era verdadeira. Chega!
Sophie sentia-se livre. Como aqueles cavalos que andavam soltos no verde escuro do inverno nordestino. E por conta disso, um tanto arisca. Alguns receios ainda. Porque agressividade tem a ver com defesa de si próprio. Se a alma está em desalento por algum motivo, ataca-se os outros querendo atacar o medo instalado em seu próprio coração. Se a alma é serena, as relações são serenas; não há medo ou dúvida. Embora eu ache impossível haver almas completamente confortáveis ou em completo desconforto.
A maioria das pessoas tem a frieza de um cálculo matemático. Sophie era doida pra ser uma regra de três; exata, gélida. Mas era doce como a poesia de Chico...

Bruna Lima Feitosa

quarta-feira, 19 de março de 2008

Paz

No teto da varanda da casa dela havia uma espécie de pentágono que ela gostava pensar haver um sentido mítico para aquilo. E era melhor ver aquela forma geométrica com a luz apagada, porque dava pra imaginar estrelas, castelos e criaturas aladas, surreais; porque era como ela se sentia. E quando ela sentia aquele vento frio batendo forte no rosto e olhava aquele céu mais limpo do que em qualquer outro lugar, ela ouvia um sussurro: "É aqui!". Por mais que você queira pintar sua casa de um rosa um pouco mais claro. As coisas são exatamente do tamanho da força com que o vento bate no seu rosto; lá fora é outra coisa que bate em seu rosto...

Bruna Lima Feitosa

quarta-feira, 12 de março de 2008

Lentes

É preciso mesmo enxergar os três lados da moeda:
porque o terceiro é o da dúvida!
E a terceira margem do rio...
Tejo? Senna? Mississipi?
Na margem há sujeira ou sublimação?
Contradição e concordância.
E o terceiro lado da moeda é de ouro ou de prata?
De um brilho com gosto de l'angoisse.
E se nós plantássemos flores nos rios? Vitórias! [Régia].
Que são como grandes relógios.
No Tejo haveira uma ponte?
No Senna, eu vejo pessoas na ponte olhando as vitórias e a vida passar.
Brisa e chuva. Relógios encharcados.

Bruna Lima Feitosa

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Stone

Sol ardendo.
Folhas verdes.
Zum-zum-zum.
Blá blá blá das gentes.
Sagüi nos galhos.
E a sensação do incompreensível; da vulnerabilidade.
Idade.
E há tanta coisa que não se fala.
Há tão pouco tempo!
80 amanheceres.
80 sóis.
8 a sós.
Esqueci palavras. Desliguei na cara. Peroba. Óleo.
Olho na derme: capilar. Caspa dilatante. Latido idiota.
Os dragões não conhecem mesmo o paraíso.
Chuva. Folhas amarelas. Frutas podres.
Como esse órgão. COR-AÇÃO!
Descorado. Decorado. Condecorado.
Condescendente. Incandescente. Indecente.
Como aquele órgão!
Coração?
Stone!
Stone sur stone.
Chatêau.

Bruna Lima Feitosa

sábado, 19 de janeiro de 2008

Baby look

Debaixo dessa garganta o espelho já viu o morder dos cheiros. A cama afarfalhada. A quentura. Cabelos embaraçados do puxa-puxa que sempre está fora do seu projeto político. A água mineral do depois. Essas manchas ninguém vê. Porque a baby look e a calça jeans dizem que ela é alheia a tudo isso. A isso tudo. Isso. Ah, essas manchas! Aquela cama.
Mas ela também usa mini-saia. Menina. Cadarços desamarrados na escola. Cabelos embaraçados da brincadeira de esconde-esconde. Porque ela é aparentemente alheia.
Ela não se lembra do bilhete destinado a Sofia Amundsen: "Quem é você?". Porque naquele momento, ela verdadeiramente não sabe. Nem pra onde vão todas as suas filosofias que naquele momento tornam-se hipócritas. Como as suas roupas.
Cabelos embaraçados do pensa-pensa. Amplia. Deforma. Inventa conceitos.
O passado é como as páginas da agenda: meses anteriores presos por um clips. Só memória; sem marcadores.
E de novo vem a coleira, a coceira infernal no pescoço, a inquietude das pernas; e do pensamento. Pensamento roxo. Porque ela gosta muito de cores. Mas ali tá tudo tão pálido, apesar das bochechas vermelhas. Suor nos cabelos embaraçados. Ela é tão alheia a todos esses planos eternos de segundos. Mas as pernas estão sempre inquietas; e o pensamento. O vermelho das bochechas. O suor dos cabelos. As marcas.

Bruna Lima Feitosa

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Tinta - 21

E as mãos dadas e o pôr-do-sol foram adiados mais uma vez. Até quando a espera pelos inebriantes vazios e frios na barriga que o amor nos dá? Eu não sei. Eu não sei. Eu vejo a vida melhor no futuro. Eu vejo um futuro pacato. Uma angústia, uma angústia. Aquelas fotos no lixo. Lixeiro cinza. Os cd's tocando o que você havia me falado. E agora? Eu não pus meu nome no cd! Será que eu pus meu nome nos seus cílios? O seu nome está mesmo aqui no meu ouvido. Zunindo. E como eu não me lembraria dos tocos dos pêlos nascendo sobre o seu lábio superior? E o roçar do seu braço no meu? Lembrando-me sempre que você está aqui, me prendendo, me olhando, me amando. Não, eu não quero mais! Inquilino. Mas como vou conviver com meu perfume, se é o seu cheiro? Seu suor já transpira minha alma. E seus olhos transparecem a minha dor. E essa porra de relatividade! Esse raio de inconstância. Essa dúvida. Medo na epiderme. Vermelho nas unhas dos pés. Unha da mão caindo. E os 21 dias caindo no esgoto da avenida central. E essa nostalgia. Orgulho. Ai que raiva dessa caneta soltando tinta. Os olhos derramando tinta. Essa tinta preta que esconde a inocência dos meus dias; e revela a chama do poder que essa mulher tem. Eu não gosto mesmo de pressão. Eu não corro atrás do que quero? Tá certo. É isso mesmo que eu queria que você pensasse. Tá tudo certo. Não há mais mãos. E eu prefiro pensar que seus cabelos estão ressecados. Que o meu coração tá seco. Mas eu estive mesmo apaixonada. No diminutivo. Eu estive mesmo pensando sua face todos esses dias. E não sei até quando.

Bruna Lima Feitosa

Pulgas

Sabe aquele banho de chuva que lava a alma? É disso que eu preciso. Porque eu estou muito farta dessa podridão toda. Vá, escove seus dentes logo. Antes que essa cárie corrosiva não te deixe dormir em paz. Essa cárie vai apodrecer aos poucos sua integridade. Goste de olhar pras suas idéias. Formule suas teorias. Invente seu cardápio light com fritas. Porque eu dou língua e dedo pra tudo. Mas nunca aponte. Faça um círculo. E só deixe entrar essas pessoas mesmo. Pra que mais? Jogue esse papel amassado no lixo. Mas é agora. Pegue esse trem sem rumo. E pense no círculo. Vá e volte. Mas traga dinheiro. Traz um pacote. Traga neurônios coloridos, não muito verdes, mas clorofilados. Traga pedrinhas brilhantes e jogue-as na fonte para fazer pedidos. E peça pra não ser esse hipócrita. Peça pra ter a capacidade de sonhar. Coceira infernal no pescoço. Deve ser essa coleira. Menina, vai tirar essa maquiagem. Não mãe, deixa eu dormir igual a todos. Pensando que sou isso mesmo. Deixa eu usar isto no baile de carnaval. É tão bonita. Esses brilhos dourados... Só dá desgosto ver a purpurina caindo. Como esses dias inúteis. Como o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Ai quantas pulgas. Junta as pulgas e a coleira e minha pele fica toda ardida. Ensangüentada. Chuva, água. Limpo.

Bruna Lima Feitosa

Não!

Não tente me entender. Eu sou muito mais que toda essa constelação. E bem menos que a gota de orvalho sobre a brancura da rosa matinal. Sorriso de raios solares. Mas eu não tenho olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Eu só queria ser uma cigana de dente dourado brega e saia estampada na canela. Melhor dourado do que preto. Cigana gosta de fogueira à noite. É brilhante. Reluzente. Quente. Esse lenço na minha cabeça tá quebrando meus cabelos. Mas de que serve os cabelos da cabeça vazia? Corte logo vá! Doe pra quem tem câncer. Lá no hospital agora deve tá uma solidão só. Uma televisãozinha ligada, dizendo o que mesmo? Dizendo que o sertão vai virar mar, que o mundo vai acabar e os pingüins estão sem moradia. Coitados, com o desemprego, não pagaram o aluguel. E você? Peça logo seu perdão. Pague suas contas. Não atrase não. Acabe com essa peste logo. E lentamente consiga ser você. Porque eu... você nunca descobrirá. Nem ninguém. Eu engoli a chave. E isso é exatamente como eu não poder pegar seu celular pra ver seus segredos. Os meus estão dentro de mim. Tome meu celular. Tire a bateria. Faça o que quiser. Apague minhas mensagens. Elas estão na memória. Os números mais importantes? Não se preocupe, eu decorei! Futuque meu diário. Será que você consegue mesmo abstrair e entender a minha subjetividade? Abra meu guarda-roupa. Meu estilo não é esse. E por mais que você me procure, eu nunca estarei lá. Ninguém consegue me achar quando eu estou na companhia dos meus botões. Adoro botões grandes, brancos, redondos e com dois furinhos. São muito fashion. Mas eu não tenho deles no meu guarda-roupa!

Bruna Lima Feitosa

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ponto

Pinte seu cérebro de vermelho. Seja determinista ao julgar. Porque é impossível olhar isso aí e não interferir com ideologias. Existenciais. Impossível não pensar em Schopenhauer: "a dor e o tédio como sendo os dois inimigos da felicidade humana". Sim, porque o tédio é, às vezes, o grande causador das catástrofes. Mas essa dor é justamente o motor do sentimento de mudança. Mudança igual a progresso. Progresso igual a barbárie. Olhos "julgatórios" sempre fixos na barbárie. Catástrofes são mesmo necessárias, e até úteis. Por isso que houve o casamento nas Alagoas.
Ah.. esqueci! Pior do que ter dor é não ter dor. Conformismo é uma praga. Estagnadora. Ócio. Ócio? Mas se é também no ócio que se pensa a respeito das grandes "verdades universais". As minhas verdades são diferentes, e "a verdade é que não há verdade" como diz o chileno Pablo.
E eu tento ver sempre os três lados da moeda. Sim, porque o terceiro é o da dúvida. E dúvida sempre gera certos tipos de conhecimento. É um parir de idéias sem fim. E esse ônibus que não pára de fazer curvas nas ruas dessa cidade vazia. E eu me espremendo toda pra escrever essa confusão pós-moderna-clássica, típica da "grande idade". Cheguei no ponto. Vida real.
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Bruna Lima Feitosa

Tapa


Quando eu vejo essa folha em branco e esse pé preto dá vontade de correr no mundo, fazer a vida, olhar as árvores. Dá vontade de fazer igual; e diferente. Olhar nos olhos das pessoas e insistir sobre seus brilhos diante de mim. Dá vontade também de dar tapas na cara dos hipócritas. Tapa na cara com sangue mesmo. Sangue que um dia saiu dos meus olhos. Olhos. Olhos. Olhos! Eu vejo um poço vazio na minha frente. Não sei se pulo, ou caio fora! Eu sempre quero mesmo estar fora. Fora desse joguinho; desse mundinho. Ah... eu vou pra lua. Vácuo!
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Bruna Lima Feitosa

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Nudez


Casa pequena ou palácio?
Grife ou sem roupa?
Mas não há nada pior que a nudez dos teus pensamentos
Mudez dos sentimentos
Oco do cérebro...
E não há nada melhor que a amplitude dos teus suspiros sobre os meus cabelos.
É intrigante viver sob o desespero dessa dualidade.
É irritante!
Relógio, calendários, luas.
Passam...
Palavra. Fugacidade. Vão.
Vazio.
Surpresas, declarações, perfumes.
Mentira.
Eu quero libertar minha alma dos desejos.
Eu quero viver mesmo nesse tédio.

Bruna Lima Feitosa

domingo, 2 de dezembro de 2007

Abutres!


Eu anseio encontrar-me em todos os lugares ao mesmo tempo.
Em todas as bandas desse mundo.
Espreitar as pessoas.
Perceber como elas se comportam nas diferentes circunstâncias das suas medíocres existências.
Como elas se permitem.
Como elas despontam... desapontam!
Eu desejaria estar alerta ininterruptamente.
Não ter que cair no sono para não perder nada!
Manipulações.
Fútil.
Pobre.
Vil mundo.
As carniças estão aí... a céu aberto.
Os urubus vêm já já.
O mundo está cheio de pepeus!
Abutres disputam com vermes.
E esse ciclo é um círculo.
Vícios.
E a fumaça dos charutos levam os momentos.
E as lembranças grudadas nos porta-retratos baratos de acrílico.
Os fulanos julgam não ser refeição de vermes.
Belíssimo banquete.
Fétida patuscada.
Talvez eles nem imaginem seus olhos esbrugados.
Roupa branca.
Sete palmos.
Solidão.
Orgulho plantado.
Fim.

Bruna Lima Feitosa

Mal


Tanto tempo.
Mas eu ainda choro...
E lembro.
[...]
Eu ainda sonho com você.
Sinto seu perfume.
!
Eu ouço sua voz no silêncio.
Sinto seus afagos.
-
Eu ainda me lembro do primeiro olhar.
E do último...
Tão diferentes.
Que santa força arrancaria de mim tão grande mal?
Por que
Nada
Lugar
Momento
Que santa força?
Que santa força?
Tão grande mal
Tão grande.
E tão grudado
E tão mortífero.

Bruna Lima Feitosa

Ilusão


Purgatório do amor
Inebria e consome
Falta
Amor maldito
Amor sincero
Mentiras
Amor sem brilho
Brilho falso
Encanto
Desencantamento
Sonhos perdidos
Mentiras
Abraços
E sonhos...
E medo.
E desengano.
Essa incerteza que corrói
Correção do certo
Interjeição
Gritos! [dados num mundo de surdos]

Bruna Lima Feitosa

Esse negócio...


Sendo eu tão inconstante... mudar pra quê?
Se o que eu sinto me arranca a vontade de ser só isso.
Se o que vejo é só o que quero que meus olhos sintam.
Se a vida é apenas isso... Eu quero mais!
Não quero jogos. Nem mentiras.
Nem apostas. Nem bilhares.
Eu quero sentimento. Eu desejo o desejo.
Não quero disfarces.
Não fingir que não sinto o que sinto.
Eu quero dizer que amo sem medo.
Ser eu.
O amor da vida de alguém.
A mulher que povoa sem cessar o pensamento daquele homem.
Daquele homem de valor. Daquele que olha nos olhos.
A minha alma ambiciona tudo aquilo que o sentimento motor
dessa insignificante vivência tem pra oferecer.
A metafísica dos meus sonhos não quer saber dessa leviandade.
Não! Isso não é concupiscência!
Esse negócio que tem aqui dentro anseia por olhares.
Ao tempo em que me toma, me torna incompleta.
Inacabada.
Esquizofrênica.
Esse negócio é amor.

Bruna Lima Feitosa