quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Espadas

Essa tarde sem pôr-do-sol-cheia-de-cólica me fez pensar em bastantes coisas. Costumes bárbaros. Quando eu me debruço na janela pra escrever sobre vida e alegria, homens de terno preto desfilam segurando um caixão. Coincidência ou não, a verdade é que eu estou muito feliz. E adoro escrever textos aparentemente sem coerência. É fato que esse período hormonal torna as mulheres mais sensíveis, mas eu quero dizer que sou uma pessoa sensível! E o que estou vendo agora me comove: meninos brincando na calçada com espadinhas verdes imaginando serem super-heróis. E eu aqui da minha janela pensando ser também uma heroína. Por tudo o que já fiz, por todos os abraços que eu não neguei, pelo telefonema que dei pra uma amiga quando ela precisava. Porque viver é sentir. Um amigo muito querido um dia me disse isso e só agora eu entendo bem. Sentir o que eu sinto quando vejo os meninos brincando, uma mulher grávida, um beijo na televisão. O meu coração transborda de sonhos. Interessante como eu nunca tinha me dado conta de que desta janela eu posso ver o mundo. As pessoas vêm e vão. Cadê o grupo de meninas fashion "Apocalipse girls"? As pessoas vêm e vão na calçada e na minha vida, mas algumas ficam. E o menino com espada verde continua desafiando os passantes. O menino de espada verde é um provável filho de Sophie. Sophie está com sede. Pausa.
De volta à janela, perfumada, sem sede. No banho, estive pensando em como se pode ser feliz acordando cedinho e indo vacinar vacas ou pondo a melhor com óculos Dolce&Gabanna e indo passear. Comendo um prato delicioso de camarão num restaurante chic ou uma buchada numa bacia com peões. Tomar banho com sabonete líquido cremosíssimo ou com um sabonete peba. Agora eu tomei banho com sabonete peba e me senti ótima. Também, depois de um dia inteiro de cólica que resolveu dar um cessar-fogo à base de inúmeras pílulas...
E ainda volta gente do enterro... O menino não brinca mais na calçada. Já é noite. Super-heróis devem se cansar também. Fecho a janela.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Auto

Muito tranquila. Continuo dizendo com os olhos o que sinto. E o mundo me dizendo muito. E prefiro não ficar cobrando nada de ninguém, porque cada um é o que gosta de ser e ponto final. Personalidade é assim. E ninguém gosta de muito enjôo. Eu mesma gosto de decisão! Faça sua parte, sem esperar que a vida te dê broncas. Corra atrás, mas saiba do que você está correndo atrás. Mas principalmente saiba do que você está fugindo. E fuja com todas as suas forças dos leões. Seja uma LEOA.
Eu gosto de pôr muito amor nas coisas que faço, mas veja bem, nas coisas que gosto de fazer! É com tanto esmero que todos os dias eu arrumo minha mesa de trabalho, sempre tão empoeirada. O mesmo pó de cimento que resseca meus cabelos faz edificar este condomínio de sensações utópicas em que vive o meu ser Sophie. Gosto da palavra utopia porque eu sempre consigo tocá-la. Ela roça em mim o tempo todo. Não porque meus pensamentos sejam longínquos, mas porque eles se fazem reais toda vez que minhas pálpebras se tocam. O utópico é perfeitamente passível de acontecer a qualquer hora. E na minha vida sempre acontece. Isso já é um clichê, mas lá vai: "o segredo está no poder da atração". Então pense positivo! Por mais que você esteja na pindaíba, gorda, estressada... você só estará assim até o dia que quiser. Eu não comecei esse texto querendo que ele fosse uma espécie de auto-ajuda (nada contra!), mas eu não me contenho em mostrar as pessoas como é fácil viver bem. E uma das piores coisas que venho vendo ultimamente é estressante: falta de amor-próprio, que é fruto da - ou melhor, ocasiona - falta de amor dos outros. As pessoas são mal amadas porque não se amam. É simples assim. Compre um bom livro. E comece hoje uma dieta.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Amídalas

Eu não tenho mesmo saco pra essa falta de disponibilidade. E estou de saco cheio dessa dispersão toda. Motos/Cavalos dão liberdade, mas não dão segurança. Ai, essa preguiça estagnadora e o passar do tempo! Falta de paixão. Comprometimento versus diversão. Fartíssima de vocábulos chulos como esses que eu uso agora. Farta também do cansaço dos tratados de alma de Dostoiévski. Que desorganização... em tudo! E tudo aparentemente bem. Quem detesta aparências também vive delas, nelas. Flanelas encardidas. Pontas de cabelo paridas. Polidas. Acho que já falei sobre coceiras infernais no pescoço. E de coleiras transmutadas nas amídalas? Contra toda essa necessidade de expressão. Dedos no celular. Mudei o final.

domingo, 23 de março de 2008

Neve

Não sei se você se lembra do que te falei sobre a simplicidade da ironia machadiana, uma ironia sobre a simplicidade da vida. Que na verdade é muito simples mesmo, basta buscar as respostas nos lugares certos. E fazia tempo que eu vinha buscando essas respostas! O incrível é que me parece que elas chegaram todas num dia só. Num sábado! Engraçado, quando eu era pequena eu não gostava de sábado: não tinha aula, meu pai não me deixava ver o programa da Xuxa (eu não entendia o porquê), era um saco! Mas parando pra pensar no misticismo dos dias, o sábado é um dia de grandes acontecimentos. E tem sido assim na minha vida. Por favor me deixe ser fútil pra acreditar nisso assim como acredito no poder da lua crescente sobre os meus cabelos.
No sábado eu não tinha emprego. Nem casa decente. Nem carinho. Só o calor do sol. E aquelas malditas roupas pra lavar. Algo estava muito errado. Logo a Sophie, que tinha tantas qualidades. Agora não se podia ver. Tornara-se amarga por não acostumar-se com a falta de pintura do seu prédio. Aluísio Azevedo escreveu sua obra-prima ali. Sophie também não achava confortável fazer tantas curvas num automóvel empesteado de fungos; de gente; de batatas!
A batata da sua cabeça começava a parar de assar naquele sábado. A princesa ligou o som e dançou. E não estava nem aí. Pois as respostas estavam aqui dentro. E que se danasse quem não estivesse de acordo!
A princesa Sophie havia aprendido bastante nesses últimos três anos. E era hora de voltar. Pois ela era uma boa filha... [segue-se a parábola bíblica!].
No sábado tudo ficou claro, como o sol que queimava lá fora, e fazia a princesa suar, com todas aquelas danças rebolativas.
Sophie sentia que sua missão estava cumprida, naquele que para ela era um lugar relativamente medíocre, onde a maioria das relações não era verdadeira. Chega!
Sophie sentia-se livre. Como aqueles cavalos que andavam soltos no verde escuro do inverno nordestino. E por conta disso, um tanto arisca. Alguns receios ainda. Porque agressividade tem a ver com defesa de si próprio. Se a alma está em desalento por algum motivo, ataca-se os outros querendo atacar o medo instalado em seu próprio coração. Se a alma é serena, as relações são serenas; não há medo ou dúvida. Embora eu ache impossível haver almas completamente confortáveis ou em completo desconforto.
A maioria das pessoas tem a frieza de um cálculo matemático. Sophie era doida pra ser uma regra de três; exata, gélida. Mas era doce como a poesia de Chico...

Bruna Lima Feitosa

quarta-feira, 19 de março de 2008

Paz

No teto da varanda da casa dela havia uma espécie de pentágono que ela gostava pensar haver um sentido mítico para aquilo. E era melhor ver aquela forma geométrica com a luz apagada, porque dava pra imaginar estrelas, castelos e criaturas aladas, surreais; porque era como ela se sentia. E quando ela sentia aquele vento frio batendo forte no rosto e olhava aquele céu mais limpo do que em qualquer outro lugar, ela ouvia um sussurro: "É aqui!". Por mais que você queira pintar sua casa de um rosa um pouco mais claro. As coisas são exatamente do tamanho da força com que o vento bate no seu rosto; lá fora é outra coisa que bate em seu rosto...

Bruna Lima Feitosa

quarta-feira, 12 de março de 2008

Lentes

É preciso mesmo enxergar os três lados da moeda:
porque o terceiro é o da dúvida!
E a terceira margem do rio...
Tejo? Senna? Mississipi?
Na margem há sujeira ou sublimação?
Contradição e concordância.
E o terceiro lado da moeda é de ouro ou de prata?
De um brilho com gosto de l'angoisse.
E se nós plantássemos flores nos rios? Vitórias! [Régia].
Que são como grandes relógios.
No Tejo haveira uma ponte?
No Senna, eu vejo pessoas na ponte olhando as vitórias e a vida passar.
Brisa e chuva. Relógios encharcados.

Bruna Lima Feitosa

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Stone

Sol ardendo.
Folhas verdes.
Zum-zum-zum.
Blá blá blá das gentes.
Sagüi nos galhos.
E a sensação do incompreensível; da vulnerabilidade.
Idade.
E há tanta coisa que não se fala.
Há tão pouco tempo!
80 amanheceres.
80 sóis.
8 a sós.
Esqueci palavras. Desliguei na cara. Peroba. Óleo.
Olho na derme: capilar. Caspa dilatante. Latido idiota.
Os dragões não conhecem mesmo o paraíso.
Chuva. Folhas amarelas. Frutas podres.
Como esse órgão. COR-AÇÃO!
Descorado. Decorado. Condecorado.
Condescendente. Incandescente. Indecente.
Como aquele órgão!
Coração?
Stone!
Stone sur stone.
Chatêau.

Bruna Lima Feitosa

sábado, 19 de janeiro de 2008

Baby look

Debaixo dessa garganta o espelho já viu o morder dos cheiros. A cama afarfalhada. A quentura. Cabelos embaraçados do puxa-puxa que sempre está fora do seu projeto político. A água mineral do depois. Essas manchas ninguém vê. Porque a baby look e a calça jeans dizem que ela é alheia a tudo isso. A isso tudo. Isso. Ah, essas manchas! Aquela cama.
Mas ela também usa mini-saia. Menina. Cadarços desamarrados na escola. Cabelos embaraçados da brincadeira de esconde-esconde. Porque ela é aparentemente alheia.
Ela não se lembra do bilhete destinado a Sofia Amundsen: "Quem é você?". Porque naquele momento, ela verdadeiramente não sabe. Nem pra onde vão todas as suas filosofias que naquele momento tornam-se hipócritas. Como as suas roupas.
Cabelos embaraçados do pensa-pensa. Amplia. Deforma. Inventa conceitos.
O passado é como as páginas da agenda: meses anteriores presos por um clips. Só memória; sem marcadores.
E de novo vem a coleira, a coceira infernal no pescoço, a inquietude das pernas; e do pensamento. Pensamento roxo. Porque ela gosta muito de cores. Mas ali tá tudo tão pálido, apesar das bochechas vermelhas. Suor nos cabelos embaraçados. Ela é tão alheia a todos esses planos eternos de segundos. Mas as pernas estão sempre inquietas; e o pensamento. O vermelho das bochechas. O suor dos cabelos. As marcas.

Bruna Lima Feitosa