domingo, 23 de março de 2008

Neve

Não sei se você se lembra do que te falei sobre a simplicidade da ironia machadiana, uma ironia sobre a simplicidade da vida. Que na verdade é muito simples mesmo, basta buscar as respostas nos lugares certos. E fazia tempo que eu vinha buscando essas respostas! O incrível é que me parece que elas chegaram todas num dia só. Num sábado! Engraçado, quando eu era pequena eu não gostava de sábado: não tinha aula, meu pai não me deixava ver o programa da Xuxa (eu não entendia o porquê), era um saco! Mas parando pra pensar no misticismo dos dias, o sábado é um dia de grandes acontecimentos. E tem sido assim na minha vida. Por favor me deixe ser fútil pra acreditar nisso assim como acredito no poder da lua crescente sobre os meus cabelos.
No sábado eu não tinha emprego. Nem casa decente. Nem carinho. Só o calor do sol. E aquelas malditas roupas pra lavar. Algo estava muito errado. Logo a Sophie, que tinha tantas qualidades. Agora não se podia ver. Tornara-se amarga por não acostumar-se com a falta de pintura do seu prédio. Aluísio Azevedo escreveu sua obra-prima ali. Sophie também não achava confortável fazer tantas curvas num automóvel empesteado de fungos; de gente; de batatas!
A batata da sua cabeça começava a parar de assar naquele sábado. A princesa ligou o som e dançou. E não estava nem aí. Pois as respostas estavam aqui dentro. E que se danasse quem não estivesse de acordo!
A princesa Sophie havia aprendido bastante nesses últimos três anos. E era hora de voltar. Pois ela era uma boa filha... [segue-se a parábola bíblica!].
No sábado tudo ficou claro, como o sol que queimava lá fora, e fazia a princesa suar, com todas aquelas danças rebolativas.
Sophie sentia que sua missão estava cumprida, naquele que para ela era um lugar relativamente medíocre, onde a maioria das relações não era verdadeira. Chega!
Sophie sentia-se livre. Como aqueles cavalos que andavam soltos no verde escuro do inverno nordestino. E por conta disso, um tanto arisca. Alguns receios ainda. Porque agressividade tem a ver com defesa de si próprio. Se a alma está em desalento por algum motivo, ataca-se os outros querendo atacar o medo instalado em seu próprio coração. Se a alma é serena, as relações são serenas; não há medo ou dúvida. Embora eu ache impossível haver almas completamente confortáveis ou em completo desconforto.
A maioria das pessoas tem a frieza de um cálculo matemático. Sophie era doida pra ser uma regra de três; exata, gélida. Mas era doce como a poesia de Chico...

Bruna Lima Feitosa

quarta-feira, 19 de março de 2008

Paz

No teto da varanda da casa dela havia uma espécie de pentágono que ela gostava pensar haver um sentido mítico para aquilo. E era melhor ver aquela forma geométrica com a luz apagada, porque dava pra imaginar estrelas, castelos e criaturas aladas, surreais; porque era como ela se sentia. E quando ela sentia aquele vento frio batendo forte no rosto e olhava aquele céu mais limpo do que em qualquer outro lugar, ela ouvia um sussurro: "É aqui!". Por mais que você queira pintar sua casa de um rosa um pouco mais claro. As coisas são exatamente do tamanho da força com que o vento bate no seu rosto; lá fora é outra coisa que bate em seu rosto...

Bruna Lima Feitosa

quarta-feira, 12 de março de 2008

Lentes

É preciso mesmo enxergar os três lados da moeda:
porque o terceiro é o da dúvida!
E a terceira margem do rio...
Tejo? Senna? Mississipi?
Na margem há sujeira ou sublimação?
Contradição e concordância.
E o terceiro lado da moeda é de ouro ou de prata?
De um brilho com gosto de l'angoisse.
E se nós plantássemos flores nos rios? Vitórias! [Régia].
Que são como grandes relógios.
No Tejo haveira uma ponte?
No Senna, eu vejo pessoas na ponte olhando as vitórias e a vida passar.
Brisa e chuva. Relógios encharcados.

Bruna Lima Feitosa