segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Tinta - 21

E as mãos dadas e o pôr-do-sol foram adiados mais uma vez. Até quando a espera pelos inebriantes vazios e frios na barriga que o amor nos dá? Eu não sei. Eu não sei. Eu vejo a vida melhor no futuro. Eu vejo um futuro pacato. Uma angústia, uma angústia. Aquelas fotos no lixo. Lixeiro cinza. Os cd's tocando o que você havia me falado. E agora? Eu não pus meu nome no cd! Será que eu pus meu nome nos seus cílios? O seu nome está mesmo aqui no meu ouvido. Zunindo. E como eu não me lembraria dos tocos dos pêlos nascendo sobre o seu lábio superior? E o roçar do seu braço no meu? Lembrando-me sempre que você está aqui, me prendendo, me olhando, me amando. Não, eu não quero mais! Inquilino. Mas como vou conviver com meu perfume, se é o seu cheiro? Seu suor já transpira minha alma. E seus olhos transparecem a minha dor. E essa porra de relatividade! Esse raio de inconstância. Essa dúvida. Medo na epiderme. Vermelho nas unhas dos pés. Unha da mão caindo. E os 21 dias caindo no esgoto da avenida central. E essa nostalgia. Orgulho. Ai que raiva dessa caneta soltando tinta. Os olhos derramando tinta. Essa tinta preta que esconde a inocência dos meus dias; e revela a chama do poder que essa mulher tem. Eu não gosto mesmo de pressão. Eu não corro atrás do que quero? Tá certo. É isso mesmo que eu queria que você pensasse. Tá tudo certo. Não há mais mãos. E eu prefiro pensar que seus cabelos estão ressecados. Que o meu coração tá seco. Mas eu estive mesmo apaixonada. No diminutivo. Eu estive mesmo pensando sua face todos esses dias. E não sei até quando.

Bruna Lima Feitosa

Pulgas

Sabe aquele banho de chuva que lava a alma? É disso que eu preciso. Porque eu estou muito farta dessa podridão toda. Vá, escove seus dentes logo. Antes que essa cárie corrosiva não te deixe dormir em paz. Essa cárie vai apodrecer aos poucos sua integridade. Goste de olhar pras suas idéias. Formule suas teorias. Invente seu cardápio light com fritas. Porque eu dou língua e dedo pra tudo. Mas nunca aponte. Faça um círculo. E só deixe entrar essas pessoas mesmo. Pra que mais? Jogue esse papel amassado no lixo. Mas é agora. Pegue esse trem sem rumo. E pense no círculo. Vá e volte. Mas traga dinheiro. Traz um pacote. Traga neurônios coloridos, não muito verdes, mas clorofilados. Traga pedrinhas brilhantes e jogue-as na fonte para fazer pedidos. E peça pra não ser esse hipócrita. Peça pra ter a capacidade de sonhar. Coceira infernal no pescoço. Deve ser essa coleira. Menina, vai tirar essa maquiagem. Não mãe, deixa eu dormir igual a todos. Pensando que sou isso mesmo. Deixa eu usar isto no baile de carnaval. É tão bonita. Esses brilhos dourados... Só dá desgosto ver a purpurina caindo. Como esses dias inúteis. Como o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Ai quantas pulgas. Junta as pulgas e a coleira e minha pele fica toda ardida. Ensangüentada. Chuva, água. Limpo.

Bruna Lima Feitosa

Não!

Não tente me entender. Eu sou muito mais que toda essa constelação. E bem menos que a gota de orvalho sobre a brancura da rosa matinal. Sorriso de raios solares. Mas eu não tenho olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Eu só queria ser uma cigana de dente dourado brega e saia estampada na canela. Melhor dourado do que preto. Cigana gosta de fogueira à noite. É brilhante. Reluzente. Quente. Esse lenço na minha cabeça tá quebrando meus cabelos. Mas de que serve os cabelos da cabeça vazia? Corte logo vá! Doe pra quem tem câncer. Lá no hospital agora deve tá uma solidão só. Uma televisãozinha ligada, dizendo o que mesmo? Dizendo que o sertão vai virar mar, que o mundo vai acabar e os pingüins estão sem moradia. Coitados, com o desemprego, não pagaram o aluguel. E você? Peça logo seu perdão. Pague suas contas. Não atrase não. Acabe com essa peste logo. E lentamente consiga ser você. Porque eu... você nunca descobrirá. Nem ninguém. Eu engoli a chave. E isso é exatamente como eu não poder pegar seu celular pra ver seus segredos. Os meus estão dentro de mim. Tome meu celular. Tire a bateria. Faça o que quiser. Apague minhas mensagens. Elas estão na memória. Os números mais importantes? Não se preocupe, eu decorei! Futuque meu diário. Será que você consegue mesmo abstrair e entender a minha subjetividade? Abra meu guarda-roupa. Meu estilo não é esse. E por mais que você me procure, eu nunca estarei lá. Ninguém consegue me achar quando eu estou na companhia dos meus botões. Adoro botões grandes, brancos, redondos e com dois furinhos. São muito fashion. Mas eu não tenho deles no meu guarda-roupa!

Bruna Lima Feitosa

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ponto

Pinte seu cérebro de vermelho. Seja determinista ao julgar. Porque é impossível olhar isso aí e não interferir com ideologias. Existenciais. Impossível não pensar em Schopenhauer: "a dor e o tédio como sendo os dois inimigos da felicidade humana". Sim, porque o tédio é, às vezes, o grande causador das catástrofes. Mas essa dor é justamente o motor do sentimento de mudança. Mudança igual a progresso. Progresso igual a barbárie. Olhos "julgatórios" sempre fixos na barbárie. Catástrofes são mesmo necessárias, e até úteis. Por isso que houve o casamento nas Alagoas.
Ah.. esqueci! Pior do que ter dor é não ter dor. Conformismo é uma praga. Estagnadora. Ócio. Ócio? Mas se é também no ócio que se pensa a respeito das grandes "verdades universais". As minhas verdades são diferentes, e "a verdade é que não há verdade" como diz o chileno Pablo.
E eu tento ver sempre os três lados da moeda. Sim, porque o terceiro é o da dúvida. E dúvida sempre gera certos tipos de conhecimento. É um parir de idéias sem fim. E esse ônibus que não pára de fazer curvas nas ruas dessa cidade vazia. E eu me espremendo toda pra escrever essa confusão pós-moderna-clássica, típica da "grande idade". Cheguei no ponto. Vida real.
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Bruna Lima Feitosa

Tapa


Quando eu vejo essa folha em branco e esse pé preto dá vontade de correr no mundo, fazer a vida, olhar as árvores. Dá vontade de fazer igual; e diferente. Olhar nos olhos das pessoas e insistir sobre seus brilhos diante de mim. Dá vontade também de dar tapas na cara dos hipócritas. Tapa na cara com sangue mesmo. Sangue que um dia saiu dos meus olhos. Olhos. Olhos. Olhos! Eu vejo um poço vazio na minha frente. Não sei se pulo, ou caio fora! Eu sempre quero mesmo estar fora. Fora desse joguinho; desse mundinho. Ah... eu vou pra lua. Vácuo!
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Bruna Lima Feitosa

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Nudez


Casa pequena ou palácio?
Grife ou sem roupa?
Mas não há nada pior que a nudez dos teus pensamentos
Mudez dos sentimentos
Oco do cérebro...
E não há nada melhor que a amplitude dos teus suspiros sobre os meus cabelos.
É intrigante viver sob o desespero dessa dualidade.
É irritante!
Relógio, calendários, luas.
Passam...
Palavra. Fugacidade. Vão.
Vazio.
Surpresas, declarações, perfumes.
Mentira.
Eu quero libertar minha alma dos desejos.
Eu quero viver mesmo nesse tédio.

Bruna Lima Feitosa

domingo, 2 de dezembro de 2007

Abutres!


Eu anseio encontrar-me em todos os lugares ao mesmo tempo.
Em todas as bandas desse mundo.
Espreitar as pessoas.
Perceber como elas se comportam nas diferentes circunstâncias das suas medíocres existências.
Como elas se permitem.
Como elas despontam... desapontam!
Eu desejaria estar alerta ininterruptamente.
Não ter que cair no sono para não perder nada!
Manipulações.
Fútil.
Pobre.
Vil mundo.
As carniças estão aí... a céu aberto.
Os urubus vêm já já.
O mundo está cheio de pepeus!
Abutres disputam com vermes.
E esse ciclo é um círculo.
Vícios.
E a fumaça dos charutos levam os momentos.
E as lembranças grudadas nos porta-retratos baratos de acrílico.
Os fulanos julgam não ser refeição de vermes.
Belíssimo banquete.
Fétida patuscada.
Talvez eles nem imaginem seus olhos esbrugados.
Roupa branca.
Sete palmos.
Solidão.
Orgulho plantado.
Fim.

Bruna Lima Feitosa

Mal


Tanto tempo.
Mas eu ainda choro...
E lembro.
[...]
Eu ainda sonho com você.
Sinto seu perfume.
!
Eu ouço sua voz no silêncio.
Sinto seus afagos.
-
Eu ainda me lembro do primeiro olhar.
E do último...
Tão diferentes.
Que santa força arrancaria de mim tão grande mal?
Por que
Nada
Lugar
Momento
Que santa força?
Que santa força?
Tão grande mal
Tão grande.
E tão grudado
E tão mortífero.

Bruna Lima Feitosa

Ilusão


Purgatório do amor
Inebria e consome
Falta
Amor maldito
Amor sincero
Mentiras
Amor sem brilho
Brilho falso
Encanto
Desencantamento
Sonhos perdidos
Mentiras
Abraços
E sonhos...
E medo.
E desengano.
Essa incerteza que corrói
Correção do certo
Interjeição
Gritos! [dados num mundo de surdos]

Bruna Lima Feitosa

Esse negócio...


Sendo eu tão inconstante... mudar pra quê?
Se o que eu sinto me arranca a vontade de ser só isso.
Se o que vejo é só o que quero que meus olhos sintam.
Se a vida é apenas isso... Eu quero mais!
Não quero jogos. Nem mentiras.
Nem apostas. Nem bilhares.
Eu quero sentimento. Eu desejo o desejo.
Não quero disfarces.
Não fingir que não sinto o que sinto.
Eu quero dizer que amo sem medo.
Ser eu.
O amor da vida de alguém.
A mulher que povoa sem cessar o pensamento daquele homem.
Daquele homem de valor. Daquele que olha nos olhos.
A minha alma ambiciona tudo aquilo que o sentimento motor
dessa insignificante vivência tem pra oferecer.
A metafísica dos meus sonhos não quer saber dessa leviandade.
Não! Isso não é concupiscência!
Esse negócio que tem aqui dentro anseia por olhares.
Ao tempo em que me toma, me torna incompleta.
Inacabada.
Esquizofrênica.
Esse negócio é amor.

Bruna Lima Feitosa