sábado, 29 de agosto de 2009

Trapezóide

Essas tardes de trovoada me fazem lembrar alguns anos atrás; o tempo em que eu era tolinha. O tempo em que eu sentava na porta, olhava a chuva cair e sonhava. Sonhava com tantos super acontecimentos! Me sentia uma menina grande, mas, às vezes, a mesma tolinha de sempre. Desengonçada, óculos fundo de garrafa, feinha que doía. Mas eu sonhava. Como até hoje...
Minha cabeça era repletinha das ilusões das crianças. Em uns tempos, minha vida era fazer roupa pra barbie, vestir a barbie e cortar o cabelo da barbie. Eu era a MÃE da barbie. Noutros tempos, eu encucava que queria ser bancária, brincava rodeada de calculadoras, pedaços de papéis denominados “saldos” e “extratos” e uma máquina datilográfica vermelha, que pra época era um notebook dos mais avançados. Achava linda essa coisa de INDEPENDÊNCIA. E noutros tempos ainda, minhas unhas eram um sangrar sem fim de tanto bife que eu tirava. Todo dia era uma cor. Meu pai falava que minhas unhas iam cair. BELEZA é outra coisa que ainda me faz gastar algumas horas do meu dia.
A impressão que me vem freqüentemente é de que todos aqueles sonhos na porta de casa, os banhos de chuva, as brincadeiras de escola (esqueci de dizer que eu também brincava de ser professora de banca e, detalhe, hoje eu sou professora), os sonhos da menina tola se realizaram e a alegria de se olhar no espelho da alma é incomensurável.

Um comentário:

Fabrício Tavares disse...

Ao ler esse texto lembrei-me do filósofo que definiu as chances de se encontrar a felicidade como se estivessem em um ciclo. Ele dizia que sempre estamos procurando, buscando, mas só encontramos mesmo quando percebemos o que realemnte vale, e que essas coisas estão no início, onde começamos...
Realmente admiro as pessoas que percebem isso, às vezes é preciso passar por coisas dolorosas para reconhecer o que é real e verdadeiro, e que aquilo que completa uma alma inquieta é o amor e o abraço caloroso de uma família, da maternidade ou da paternidade... São mesmo abençoados os que, assim como você, conquistam e se deixam conquistar verdadeiramente, pois as flores e a folhas cairão, o seu corpo perecerá, a beleza física irá se esvaecer, os sentidos irão falhar mas sempre o principal: será amada e sempre terá amor no coração... No final irá repousar em paz pois sua existência foi abençoada...